NOTÍCIA
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FONTE DA INFORMAÇÃO
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2014/01/20/101963-pesquisa-investiga-inovacao-tecnologica-na-agricultura-organica.html
Agência Fapesp
Pesquisa
investiga inovação tecnológica na agricultura orgânica.
A agricultura orgânica tem crescido a
taxas elevadas no Brasil. Segundo dados divulgados em 2013 pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário, o mercado de produtos orgânicos se expande de 15% a
20% ao ano, abastecido por cerca de 90 mil produtores, dos quais
aproximadamente 85% são agricultores familiares.
Uma pesquisa, conduzida por Mauro
José Andrade Tereso, professor associado da Faculdade de Engenharia Agrícola
(Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), investigou as
condições de trabalho e a inovação tecnológica no setor.
O estudo, apoiado pela FAPESP, contou
com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da
Unicamp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar).
No período de vigência da pesquisa,
que se estendeu de maio de 2010 a maio de 2013, foram investigadas 33 Unidades
de Produção de Agricultura Orgânica (UPAO) dedicadas prioritariamente ao
cultivo de hortaliças. Esse montante representava um terço das UPAOs dedicadas
à horticultura certificadas no Estado de São Paulo na data inicial da pesquisa.
Aproximadamente dois terços das UPAOs
visitadas eram propriedades familiares, com áreas totais não superiores a 20
hectares e nenhuma dedicando à horticultura mais do que 15 hectares. A maioria
contava com área de proteção ambiental e se caracterizava pela grande
diversidade de itens produzidos.
Os pesquisadores buscaram mapear as
tecnologias empregadas e as demandas, adaptações e inovações tecnológicas,
destinadas a minimizar a carga de trabalho e as dificuldades na execução das
tarefas e a aumentar a produtividade.
“Como a tecnologia disponível no
mercado foi desenvolvida para o modelo convencional de agricultura, os
produtores orgânicos são obrigados a adaptar ferramentas e equipamentos e a
realizar outras inovações a fim de aumentar a produtividade de seu trabalho”,
disse Tereso à Agência FAPESP.
A agricultura convencional, que se
difundiu em escala planetária a partir da chamada “revolução verde”, durante as
décadas de 1960 e 1970, baseia-se, grosso modo, em: monocultura; uso intensivo
de compostos químicos sintéticos para recuperação do solo e controle de pragas;
uso de maquinário no processo de produção, do preparo do solo à pós-colheita;
uso de sementes geneticamente adaptadas ao modelo de produção; uso de fontes
exógenas de energia em relação ao espaço produtivo.
Já a agricultura orgânica, segundo
definição do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é um sistema de
produção que exclui amplamente o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores
de crescimento e aditivos para a alimentação animal compostos sinteticamente.
Baseia-se também, tanto quanto
possível, na rotação de culturas e na utilização de estercos animais,
leguminosas, adubação verde, reaproveitamento de materiais orgânicos vindos de
fora das propriedades, minerais naturais e controle biológico de pragas para
manter a estrutura e a produtividade do solo, fornecer nutrientes para as
plantas e controlar insetos, ervas daninhas e outras pragas.
A agricultura orgânica geralmente
emprega o cultivo mecânico, retomando antigas práticas agrícolas, porém
adaptando-as às modernas tecnologias de produção agropecuária, com o objetivo
de aumentar a produtividade com o mínimo de interferência nos ecossistemas.
“Os agricultores orgânicos compensam
a ausência de equipamentos concebidos diretamente para eles com a inovação dos
processos produtivos e a adoção de novos métodos organizacionais. São também
comuns adaptações muito engenhosas dos equipamentos convencionais”, afirmou
Tereso.
A diversidade de produtos e de
alternativas de vendas também constituem estratégias importantes para os
agricultores orgânicos competirem no mercado.
“Nossa pesquisa mostrou que esses
agricultores são altamente qualificados, com uma impressionante quantidade de
conhecimentos acerca das plantas, do solo, da relação solo-água e de outros
tópicos agronômicos. Além disso, trabalham com uma grande diversidade de
produtos”, informou Tereso.
“Na agricultura convencional, o
agricultor lida muitas vezes com um único tipo de produto, por exemplo, alface
ou tomate. Já na agricultura orgânica, é comum os agricultores lidarem com 15,
20, às vezes 60 itens diferentes. Encontramos uma propriedade com mais de 100
itens hortícolas produzidos”, prosseguiu o pesquisador.
Metade dos gestores entrevistados na
pesquisa estava na faixa etária dos 40 aos 60 anos. Dois terços tinham mais de
dez anos de experiência na atividade agrícola e na própria agricultura
orgânica. Vários acumulavam mais de vinte anos de certificação.
Além dos gestores, a maioria dos
trabalhadores das UPAOs familiares executava todas as tarefas que compõem os
diferentes sistemas de trabalho. As exceções eram as poucas tarefas que
requerem muita força física, como a colheita de raízes e tubérculos, realizada
apenas por homens, ou atividades que requeriam habilidades específicas, como a
preparação de mudas. As especializações laborais surgiram nas operações de máquinas
e equipamentos, como tratores e pulverizadores.
Com tal qualificação e diante da
ausência de ofertas tecnológicas no mercado, esses agricultores buscam soluções
criativas e promovem a inovação no sentido mais estrito da palavra, não apenas
trazendo novos aportes tecnológicos para dentro da propriedade, mas
desenvolvendo tecnologias muito específicas lá mesmo. “Essa foi uma das
conclusões mais interessantes de nossa pesquisa”, comentou Tereso.
Outro diferencial entre os
agricultores orgânicos e os agricultores convencionais é que os primeiros
buscam diversos nichos de mercado. “Normalmente, o produtor convencional vende
para um atravessador e se contenta com isso. Já o produtor orgânico procura
explorar várias possibilidades: cooperativas, vendas pela internet, vendas de
cestas de produtos, pontos de venda próprios, convênios com restaurantes ou
supermercados, enfim, uma gama muito grande de alternativas para escapar dos
atravessadores”, disse Tereso.
Muitos desses produtores já criaram
embalagens diferenciadas e marcas. E vários também promovem algum tipo de
processamento, agregando valor aos seus produtos.
Soluções tecnológicas – Depois do
levantamento geral de dados, em uma segunda fase, a pesquisa estudou em
profundidade as UPAOs que se destacaram nas várias modalidades da inovação
tecnológica. Os pesquisadores observaram o dia-a-dia dos gestores destas
propriedades, procurando compreender como a inovação ocorria no interior das
UPAOs que administravam. Cada gestor foi acompanhado por pelo menos 40 horas.
No total, os pesquisadores somaram quase 400 horas de trabalho de campo nesta
segunda fase.
Os produtores orgânicos compensam a
ausência de tecnologia disponível na forma de máquinas e equipamentos com o
desenvolvimento de soluções tecnológicas na forma de processos, de organização
do trabalho e de comercialização de seus produtos.
“O que mais chamou nossa atenção foi
a capacidade de os produtores orgânicos encontrarem saídas para driblar a falta
de oferta de equipamentos que enfrentam hoje no mercado brasileiro. Quando o
mercado passar a oferecer equipamentos específicos para esses profissionais,
eles poderão superar em muito a produtividade da agricultura convencional”,
disse Tereso.
“O Brasil é hoje o
maior produtor de açúcar orgânico do mundo. Em meados da década de 1980, quando
iniciou suas atividades, a produtividade da maior empresa do setor era inferior
à metade da média nacional. De lá para cá, essa empresa desenvolveu tecnologias
próprias (maquinários, equipamentos, novos processos agronômicos, controle
biológico de pragas etc.). Hoje, sua produtividade é 80% superior à média
nacional. Isso mostra que, quando se conjugam conhecimentos tão abrangentes dos
processos produtivos com recursos tecnológicos, a produtividade pode alcançar
níveis surpreendentes”, afirmou o pesquisador.